terça-feira, 12 de maio de 2009

C.9-CPD:Atualidade e Perspectivas. Movimentos,Serviços e Instituições

C.9.1-Atualidade e Perspectivas
A Colônia Padre Damião foi inaugurada com a finalidade de prestar assistência aos hansenianos em regime de segregação social.
Os anos se passaram, e o Brasil, seguindo a tendência mundial, começou a pôr fim ao isolamento compulsório com base no Decreto Federal Nº 968, de 7 de maio de 1962, mantendo um regime de transição até 1976, e ocorrendo casos circunstanciais até 1986.
Na atualidade está assim definida a disponibilidade de leitos: > na área asilar ou semiasilar: 173 leitos de longa permanência; > na ala reformulada do hospital geral: 35 leitos de clínica médica (16 masculinos, 16 femininos, 2 isolamentos e uma unidade semi-intensiva), com projeto de expansão progressiva.
A Colônia do internamento compulsório não mais existe.
O mesmo sentimento que embala: “Ai de um povo que não tem história”! também deve embalar: “Ai de um povo que não tem perspectiva de vida”!
Com as alterações de abrandamento do regime e com maior aproximação das pessoas, embora com algumas observações preocupantes, existem perspectivas. A vida vai tomando ritmo de certa normalidade entre moradores com crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos.
Na verdade, crianças, adolescentes e jovens que são filhos ou netos de pais e avós que perderam suas raízes na terra natal. Estes filhos e netos, pelas circunstâncias da vida, têm suas raízes na Colônia e povoados limítrofes. Cabe a eles, com nova visão da experiência atual, sem os erros do passado, defender e preservar estas raízes, até porque, mais do que ninguém, conhecem de perto a tristeza de quem um dia as perdeu.
São crianças, adolescentes e jovens, saudáveis e inteligentes, absolutamente capazes, que devem reagir contra preconceitos, mas também não podem mendigar privilégios. Precisam convencer que só querem oportunidade igual de mostrarem valor pela competência. E quem fizer diferente disso estará atrapalhando e implodindo o sonho de tantos que de há muito lutam pra derrubar barreiras.
Apesar de todos os problemas já mencionados e da ingratidão de muitos, é notória a constatação de muitos valores humanos na comunidade. Famílias exemplares, homens e mulheres, pais e mães que passaram pela têmpera do sofrimento e continuam garantindo o equilíbrio nas intempéries. Jovens que estudaram ou ainda estudam e trabalham com honradez, sendo úteis à comunidade em vez de perderem tempo engrossando as lamúrias dos acomodados. Uma geração que pode construir dias melhores pela dignidade, estudo e trabalho, respeitando e valorizando o presente e sem esquecer as experiências de dor e lágrimas dos antepassados.
A partir de 2007 a Unidade passa a ter a nova denominação: Casa de Saúde Padre Damião, como centro de referência em atendimento da hanseníase. Está redefinindo sua vocação e perfil assistencial, visando ser também referência regional em reabilitação e geriatria, sob administração da FHEMIG-Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais, com sede em Belo Horizonte.
C.9.2-Movimentos, Serviços e Instituições
A vida em comunidade, no seu dia a dia, formada de pessoas e instituições, engloba os moradores da ex-Colônia e dos bairros adjacentes: São Domingos e Boa Vista. Embora não haja vinculação administrativa entre a Casa de Saúde Padre Damião (administração estadual) e os povoados (administração municipal), as ações de saúde, de educação, lazer e vida social estão sempre integradas com o conjunto da população em tudo que é possível.
Destacamos, em resumo, alguns itens da vida em comunidade:
.Para formação educacional existem a Escola Municipal Dr.Heitor Peixoto Toledo e Escola Estadual Eunice Weaver.
.Quem conclui o Ensino Médio e deseja continuar os estudos freqüenta normalmente a FAGOC, a UNIPAC, a UFJF e outros estabelecimentos conforme necessidade e possibilidades.
.Acesso a todos os meios de comunicação fixos e móveis da atualidade.
.Para a assistência espiritual existem templos de igrejas de diversas denominações.
.Reuniões, encontros e festas sociais em praças, Centros Comunitários e clubes esportivos.
.Atividades esportivas e recreativas em quadras e campos de futebol são movimentadas por visitantes e clubes locais: Associação Atlética Pires da Luz, Sete de Setembro Futebol Clube, Cruzado, Boa Vista e Veteranos Damianense.
.O transporte é feito em carros particulares, de Táxi e Linha de Ônibus Urbano/Ubá, com 28 horários diários, facilitando a vida de trabalhadores, estudantes, usuários e visitantes.
.Ações diversas se realizam através de instituições, movimentos e serviços, tais como: Associações de Moradores/Conselhos Comunitários, Pastoral da Criança, SSVP, Sindicatos Trabalhistas(SIND-SAÚDE e ASTHEMG), Caixa Beneficente, Núcleo do MORHAN, Grupo de Capoeira, Bloco Carnavalesco, Grupos de Voluntários e EVF-Equipe Vida Feliz.
C.9.3-Morhan em movimento
MORHAN – Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase. É o que se pode chamar de reação e ação de voluntários, realmente voluntários: pacientes, ex-pacientes e pessoas da sociedade organizada preocupadas em combater preconceitos milenares contra a hanseníase.
Fundado em 06-06-1981, tendo como um de seus fundadores o ex-hanseniano amazonense, Francisco Augusto Vieira Nunes, popularmente conhecido como Bacurau.
A sede administrativa do Morhan está no Rio de Janeiro com atuação em âmbito nacional através de Núcleos em todo o Brasil e é reconhecido internacionalmente.
Seus objetivos, além da luta contra o preconceito, estão voltados para políticas públicas de saúde, prevenção e erradicação da hanseníase e atenção específica aos pacientes remanescentes das antigas colônias no Brasil com a preservação de sua história.
Inicialmente o movimento sofreu resistência entre alguns internos e instituições porque uma de suas bandeiras era combater a mendicância e exploração da caridade pública em nome da doença. É a lógica da coerência de quem teria que começar cortando na própria carne. Além disso, experiências mostram que quase sempre os que mais pedem nem sempre são os que mais precisam.
O Morhan atua, preferencialmente, em parceria com pessoas e instituições em projetos coletivos, não assistencialistas, de mobilização social, para divulgação de informações científicas, campanhas educativas para prevenção e erradicação da hanseníase, combate ao preconceito e visando todas as formas possíveis de reintegração e inclusão social das pessoas atingidas pela hanseníase. (PS+: Telehansen: 0800-26-2001 e http://www.morhan.org.br/ )

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