O sofrimento dos filhos separados e dos que foram deixados para trás foi também o de pais separados ou que tiveram que deixar para trás os seus filhos. Lados iguais de uma moeda muito usada: o “preconceito social” contra a hanseníase. O mecanismo de separação imposto pela medicina e autoridades da época, mais do que distância entre pais e filhos, desligou o fio da emoção familiar, gerando traumas de conseqüências sem fim. Igualmente são lados de uma outra moeda chamada “incompreensão” o fato de muitos pais não terem conseguido conquistar alguns filhos e de outros filhos não terem tido oportunidade ou a vontade suficiente para entender o drama de muitos de seus pais. A convivência humana tem demonstrado que não se deve descartar também outras moedas como "revolta", "indiferença", "rejeição", que podem ser mútuas. Ao tempo em que nos solidarizamos com a causa dos “filhos separados” e até por conhecer de há muito sua triste história, gostaríamos de chamar a atenção, a bem da justiça e da verdade, para uma análise mais humanizada e compreensiva dos fatos.
Ao reeditar a página “Preconceito Fatal”, da postagem Fragmentos de Vida, relembramos a cena chocante da agonia de um pai internado/acamado/escondido na Colônia Padre Damião-Ubá, em algum dia do ano de 1966.
Não sabemos o nome do filho, nem sequer se ainda vive e por onde anda, mas com certeza, um filho que foi amado e não sabia.
Ao reeditar a página “Preconceito Fatal”, da postagem Fragmentos de Vida, relembramos a cena chocante da agonia de um pai internado/acamado/escondido na Colônia Padre Damião-Ubá, em algum dia do ano de 1966.
Não sabemos o nome do filho, nem sequer se ainda vive e por onde anda, mas com certeza, um filho que foi amado e não sabia.
Preconceito fatal
Nas lembranças
que marcam o tempo, restaram lições que jamais serão esquecidas. É necessário
repensar conceitos e rever as consequências de atitudes preconceituosas.
Muitos
sofreram e outros ainda sofrem diante da situação de preconceito e humilhação
que não conseguem esquecer. Outros não conseguiram suportar mais, e abreviaram
o tempo da vida com o suicídio.
Existiam(como
ainda hoje existem) os que foram abandonados pela família e tiveram que
suportar, no silêncio da vida entre paredes, a maior de todas as dores, a dor
imensa da solidão. Mas existiu também quem teve que abandonar a família e, no
que embora à primeira vista, até pudesse ser julgado como ato de pai
irresponsável, se revela um gesto de amor sem limites, dolorosamente sentido
numa cena dramática que meus olhos e coração não esquecem.
“Vi
lágrimas de um pai sofrido num leito de hospital, depois de várias visitas e
perguntas de rotina sobre terra natal e família. Personagem de semblante
triste, mas que algum tempo depois, mesmo talvez sentindo um pouquinho de
confiança para o desabafo, ainda assim pediu segredo para revelar, falando
baixinho, uma única vez, “um pouquinho de sua história”: estava ali escondido,
não queria que soubessem onde estava. Teve que sair de casa, às escondidas,
para não prejudicar a família, ao descobrir que estava doente. Disse que o
filho era gerente de banco e perderia tudo quando a cidade soubesse da doença
do pai. O único jeito era sair escondido, sumir no mundo e não mais dar
notícias. Já em soluços, pediu desculpas, não podia falar mais.
E tentando esconder o rosto,
enxugava as lágrimas. Também não tive coragem nem voz para insistir. Nem sabia
o que fazer! E assim aquele pai, um ser humano cativante e admirável, revivia
noites e dias entre soluços e lágrimas, certamente angustiado por terríveis
dilemas: a doença e a dor em si; ter que esconder a sua origem até pra quem
queria ajudar; estar distante do filho que amava; pensar que estariam
procurando por ele; e afinal, o que a família e os amigos estariam pensando
dele?
Vendo o que
vi, podia sentir quanta angústia na alma daquele homem de bom coração!
Vendo o que
vi, dá para sentir o sofrimento de alguém rejeitado pela sociedade, ainda mais
por motivo de doença que a pessoa não escolhe.
Será que um
dia aquele filho ‘abandonado’ será capaz de entender o amor deste pai?
Meu Deus! Por mais que eu já tenha ouvido, visto e lido, assuntos relacionados a segregação e a tristeza imposta pela sociedade à pais e filhos brasileiros. Confesso que ainda continuo me surpreendendo e emocionando com os relatos. Estou arrepiada!Tomara que esse filho saiba um dia o quanto foi amado por seu pai. Parabéns ao blog.
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