Em clima de esperança nos sonhos da nova
posse, mas já atormentado pela desconfiança da realidade, até deixei a água pra
depois, quando ouvi da Presidente o novo lema: “Brasil, Pátria Educadora”.
Lindo lema! E sonho lindo também.
Pensei comigo mesmo e cheguei a ensaiar a
comemoração: Será que vai desta vez? Tomara que fosse! Terminado o discurso,
devo ter tomado o copo d’água e foi quando comecei a acordar.
- Não é “pátria educadora” um país onde a
educação é a eterna princesa de todos os palanques eleitorais, mas professores
e alunos são tratados por quase todos apenas como incômoda despesa obrigatória
no orçamento.
- Está longe de ser “educadora” a pátria
desgovernada pelos vícios e maus exemplos de todos os lados e em todas as esferas
de poder: Executivo, Legislativo e Judiciário. Raras exceções até existem, mas
exceções realmente raras.
- Como ver pátria educadora onde o sistema
educacional até tem pressa para melhorar posição nas estatísticas mundiais do
analfabetismo, mas não consegue ter qualidade a entusiasmar jovens estudantes
para voos mais altos? Neste aspecto, chama-nos a atenção alguns dados do Enem/2014,
uma das vitrines do MEC e porta de entrada para o Ensino Superior no Brasil.
Total de alunos inscritos: 8,7 milhões. Total de comparecimentos para as provas:
6,2 milhões. Total de faltosos: 2,5 milhões. Registre-se ainda que dos 6,2
milhões que fizeram as provas, 529.374 (8,54%) conseguiram nota zero; 280.903 (4,53%)
entregaram a prova em branco e somente 250 estudantes (0,004%) conseguiram a
pontuação máxima.
- E por falar em voos mais altos, louvores
para o Fies-Financiamento Estudantil para o Ensino Superior que teve crescimento
de gastos de 448% a partir de 2010. No entanto, como o total de alunos na rede particular
em igual período cresceu apenas 13%, não se concretizando a expectativa de
expansão de matrículas, falta explicar a contradição. Bem simples: a maioria
das instituições incentivaram alunos já matriculados a não pagar a mensalidade
e entrar no FIES, que lhes repassa os valores diretamente, sem atraso ou
inadimplência. Ainda que seja legal, fica um cheiro estranho. Em assim sendo, o
pagamento das empresas fica garantido, a dívida fica com o aluno, o risco fica
com o governo e a ”pátria” que se pretende “educadora” fica sendo passada para
trás. Mas soa estranha também a indecisão oficial ao mudar a regra no meio do jogo.
- Por sincera que seja a intenção da Presidente,
o Brasil não será “pátria educadora” enquanto candidatos ou governantes camuflarem
a verdade e, omissos com o dever de casa, dependerem de marqueteiros da
popularidade, contratados para colorirem as nuvens e lhes soprarem o que o povo
gostaria de ouvir.
Nota do autor:
Espaço aberto para o leitor. Quem quiser pode manifestar-se na seção “Comentários”
ou enviar texto, via e-mail, relatando Contradições que observa na vida em
sociedade, nas ações governamentais, nas relações humanas, nos costumes, etc.
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