sexta-feira, 14 de agosto de 2009

E.1-Assim caminha a humanidade

O sentimento humano, de agradar e de ser agradado, precisa encontrar equilíbrio na realidade insaciável da vida. As frustrações serão superadas ao se descobrir e compreender que agradar a todos continuará sendo “arte do impossível”. Ou então é tentar pra ver!
A historinha “o velho, o menino e o burro”, adaptada e reescrita de várias formas, serve para ilustrar o tema que continua atual, refletindo as incertezas do sentimento humano.
"Querendo dar umas voltas para descansar da dura lida da semana, o velho monta no burro e coloca o menino na garupa. Até aí tudo normal, não parece? Caminhando estrada afora encontram um animado grupo de pessoas esperando o ônibus que as levaria para uma festa. Surge a primeira reação popular: Mas que absurdo! Dois montados ao mesmo tempo no pobre burro, podiam ao menos não judiar tanto do animal e montar um de cada vez. Coitadinho do burro!
Seguiram em frente. O velho, pensativo, parou o burro e conversou com o menino: Talvez eles tenham razão de estarem criticando. Vamos fazer como falaram. Durante uma certa distância você vai montado e eu vou puxando, depois a gente troca. E assim fizeram. Pouco adiante, à margem da estrada, um outro grupo de pessoas se reunia para o velório de um vizinho. Por algum momento até esqueceram as tristezas da vida e ensaiaram uma vaia: Vejam bem, o menino que é novo e com toda saúde é que devia estar andando e este pobre velho deveria estar montado. Menino covarde!
A viagem continua, o velho pensativo e o menino na bronca com o que ouviu. Param novamente e fazem a troca que já haviam combinado anteriormente: o velho montado e o menino segue puxando o animal. Um pouco à frente, tarde de domingo, campo de futebol e a torcida até esquece o jogo e a mãe do juiz: Olhem só que absurdo, gente! Coitadinho desse menino andando a pé e este velho, que já viveu tanto, montado no burro. Por que não dá a vez para o menino? Velho covarde!
Mais à frente, uma encruzilhada. Encruzilhada no caminho ou na vida é sempre lugar ou momento de decisão. Pararam ali “o velho, o menino e o burro”. O velho triste e pensativo diante de tantas críticas, o menino pensativo e decepcionado com o julgamento das multidões, o burro pastando algum capim na beira da estrada e, naturalmente, nada entendendo do que se passava.
O velho e o menino conversam. Chegam a um acordo para terminarem a viagem. Afinal, se ficassem ali parados, teriam que se defrontar também com a boca da noite. Já que de todo jeito que fizeram até agora foram criticados, só restava caminharem a pé puxando o burro. E foi o que fizeram.
Recomeçando a caminhada, podiam ouvir ao longe o espocar de foguetes e logo logo estavam passando por uma pequena praça da cidade onde as pessoas se reuniam para um comício político, talvez para ajudarem a enganar alguém ou para serem novamente enganadas por políticos e partidos que estão sempre juntando os cacos em alianças alienadas.
E a galera não deixou passar batido. Esqueceu por algum tempo o palanque e fez tanto auê que até assustou o burro: Vejam que burrice, gente! Um velho e um menino a pé, puxando um burro arreado! Isso é que é ser besta! Burro existe mesmo é pra carregar peso! E estes dois teriam mais é que estar montados, né?"
- Viu só? Cuidado pra não cair do cavalo porque assim caminha a humanidade e a roda da vida não pode parar. E como “ser bom é fácil, difícil é ser justo”, que haja coragem e senso crítico para avaliar atitudes e segurar as rédeas, fazendo o que tiver que ser feito e tentando ser agradável: se, onde, quando, enquanto e naquilo que for possível.

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