domingo, 5 de maio de 2013

7.E-Ouvir e Escutar

Ouvir e Escutar

Na estrutura semântica da língua, são palavras sinônimas e parecem iguais.No entanto, existem diferenças fundamentais a serem analisadas, diferenças estas que podem passar despercebidas para muitos.
Igualmente outros ditos e escritos sinalizam compreensão inversa entre um e outro termo.

À guisa de reflexão sobre o tema, é interessante considerar que uma maneira simples e esclarecedora de estabelecer comparativos deve começar pela raiz etimológica das palavras na língua-mãe.
Ouvir (do latim audire) = ouvir, perceber os sons pelo sentido da audição.
Escutar (do latim auscultare) = escutar, estar atento, sondar, sentir, auscultar.
Não se trata aqui de definir o que é mais importante, porque tudo é importante.
Eis alguns destaques de variáveis e diferenças entre uma e outra ação:
Ouvir independe da vontade, a pessoa ouve até mesmo sem querer, basta que tenha o sistema auditivo em funcionamento normal.
Já o escutar é ato da vontade, depende do querer. Demanda tempo, interesse, paciência, mente espontânea, concentração integral, livre de pressupostos, teorias e preconceitos. Quem escuta sempre ouve, mas quem ouve nem sempre escuta. Alguém que esteja desorientado pelas circunstâncias da vida, às vezes ouve, mas não escuta. Ouve porque tem ouvidos, mas não escuta porque não presta atenção, não reflete, não assimila. Daí é que se diz que “entrou por um ouvido e saiu pelo outro”.
Escutar exige estar atento para ouvir, auscultar, indagar, perceber e sentir, criando foco para o "agir" ou "reagir". Supõe “captar” até o que não se ouve por deficiência auditiva, também o não dito ou o que foi dito nas entrelinhas, a intenção. Escuta-se um gesto, o semblante, um acontecimento, o silêncio...
Há quem não ouve, mas escuta muito bem e há quem ouve bem e escuta muito pouco.
Ouvir é uma ação passiva, mais superficial, consequência do sistema auditivo que capta involuntariamente todos os sons. 
Escutar é ação ativa, mais profunda, que requer o silêncio da alma e a pausa do tempo para “remoer e digerir”.
Assim caminha a humanidade:
Nas relações da vida contemporânea, em plena era tecnológica das comunicações, causa espanto que muitos pais e filhos, e outros tantos professores e alunos, estejam ouvindo de tudo e parando pouco para escutar.
Nas relações da vida democrática o povo ouve de tudo, mas nem sempre parece escutar a voz da consciência no exercício da cidadania.
No âmbito do poder político nacional, ressalvadas heroicas exceções, causa apatia e indignação governantes muitos que até simulam ouvir o que o povo diz, mas não conseguem escutar esse povo porque em suas campanhas pelo poder vendem milagres que não podem entregar ou prometem reformas que quase sempre não querem fazer.
No âmbito internacional todos ouvem e se assustam com o estrondo de bombas custeadas com o dinheiro da fome, enquanto fanáticos ou mandatários não escutam o silêncio e o choro de vítimas inocentes.
Resta no ar a impressão de que todos ouvem de tudo e ninguém escuta ninguém.
PS-Como ninguém ouviu de mim as palavras do texto, termino por agradecer aos que leram e peço licença para louvar a todos que me escutarem.
                                   (Jafran/vozdamianense/05.05.13)

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