quarta-feira, 8 de abril de 2009

C.4-Hanseníase:Internamento Compulsório.Os horrores do Sistema.Ruptura familiar

C.4.1-Internamento Compulsório
As pessoas doentes eram internadas à força, em regime de isolamento compulsório, buscadas pela polícia sanitária, perto ou longe. Era a tragédia humana patrocinada por governantes e pela medicina da época receitando doses de medo, violência e separação. Pessoas arrancadas de suas cidades, de seus lares, do seu chão. Até casas eram queimadas para que não mais voltassem. Pais de família pegos a laço no trabalho como se criminosos fossem, mães que chorando tiveram que abandonar os filhos, crianças assustadas chorando o colo perdido. Depois disso: outros medos, fugas, prisões, desesperos, suicídios.
Com o internamento obrigatório forçando a desagregação, as pessoas perderam a identidade familiar, as referências de origem e passaram a depender de migalhas governamentais ou da caridade pública. Tal situação, no entanto, fez com que muitas pessoas perdessem a motivação de pensar, de agir e até mesmo de viver. E mesmo para os que tentaram superar foram grandes os obstáculos: a perda de raízes da terra natal, o fantasma arrasador do preconceito, a diversidade de origem e formação, as limitações culturais que fecham horizontes, o medo de não dar certo, a falta de formação profissional, as restrições do mercado de trabalho, a estigmatização gerada pelas sequelas da falta de tratamento, a rejeição social.
C.4.2-Os horrores do Sistema
Foi concluída, na Era Vargas, uma extensa rede de 101 hospitais-colônia em todo o Brasil, ganhando força a política de isolamento compulsório e internamento em massa. Coincidência ou ironia, mas em tempos com cheiro da 2ª Guerra Mundial, as atrocidades com os doentes bem se assemelhavam aos horrores dos campos de concentração de Auschwitz.
Para os funcionários sadios o medo era espantado por um percentual de vantagem nos vencimentos, denominado risco de contágio, concedido como uma compensação do sistema. Além disso, não havia servidores para o trabalho direto com os doentes, como na enfermagem, por exemplo, função exercida pelos próprios internos em melhores condições. E aí, ai dos doentes, se não fossem os doentes!
Com a dureza do regime imposto um internado tinha poucas opções: tentar fugir, suicidar-se ou se ajeitar de qualquer jeito. Com o passar do tempo, já que tinha mesmo que ser assim, as pessoas foram se adaptando, tendo que engolir a realidade. As Colônias foram se transformando em “cidades fora do mapa”. Eram administradas por prefeitura própria ou Serviço de Intendência, e em suas dependências passou a ter: trabalho escravo para o Estado, comércio, agricultura, pecuária, escola, igreja, banda de música, clubes, times de futebol, salão de festas, delegacia, cadeia, cemitério.
C.4.3-Ruptura social e familiar
Com o sistema de internamento forçado na Colônia e as limitações científicas da época, surge o grande drama humano da separação de pais e filhos que eram levados logo após o nascimento para o Educandário Carlos Chagas, em Juiz de Fora, a 100 km de distância. Filhos que nem sequer podiam ser abraçados e amamentados por suas mães. Era a dor que restava nas gotas do leite de filhos ausentes.
O sofrimento se acentuava com o rigor do regime, a separação vigiada de pavilhões de moradia por idade, sexo, situação conjugal, estágio da doença, possibilidades econômicas, com visitas distantes e saídas proibidas. Enfim lembranças, saudades, coração partido, a dor do abandono, a ruptura de todos os laços.
Será que alguém daquele tempo conseguiria apagar da memória as marcas de tanta dor?
Será que alguém dos tempos atuais conseguiria imaginar tanta humilhação?

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